A educadora e missionária portuguesa Maria Alice Teixeira elevou a voz na Assembléia Legislativa para dizer: "Sou baiana e brasileira!", pouco depois de receber o título de Cidadã Baiana das mãos da deputada Antônia Pedrosa (PRP), em sessão especial realizada ontem à tarde. Para quem não ligou o nome à pessoa, ela é conhecida por três gerações de baianos de Salvador como fundadora e diretora do Instituto Social da Bahia (Isba).
A homenagem foi proposta pelo deputado Arthur Maia (PSDB) e acolhida pela unanimidade da Casa. Foi além disso: o parlamentar contou em seu pronunciamento ter sido parabenizado por diversas pessoas pela iniciativa, inspirada no amigo Agnelo Brito, presidente por diversas vezes da Associação de Ex-alunos do Isba. Um desses elogios foi levado a plenário pelo próprio parlamentar, ao ler comunicado em que o deputado federal Jutahy Junior (PSDB-BA) registra sua satisfação com a homenagem. Afinal, "poucos baianos fizeram pela Bahia a obra extraordinária que a senhora tem feito", disse o tucano referindo-se a Maria Alice.
De acordo com Maia, a homenagem da Assembléia foi muito menor do que o merecimento da homenageada. Neste sentido, destacou a presença maciça, no plenário, galerias e saguão, de alunos do Isba, funcionários, amigos e representantes da sociedade baiana, "como poucas vezes tenho visto", completou.
VITALIDADEDemonstrando extraordinária vitalidade do alto de seus 80 anos, Maria Alice propôs "vamos viver cada minuto", logo no início de um pronunciamento que se revelou leve e bem-humorado. Ela explicou que tinha preparado o discurso, mas que repetiria tudo o que já havia dito Arthur Maia. "Vocês não vão querer que eu repita, não é?", perguntou, pinçando algumas partes das dez laudas que trazia. Lembrou da infância em Portugal, a chegada a Salvador, aos 14 anos, a opção pela educação e a carreira religiosa. Contou como erigiu o gigante da educação que vai do ensino fundamental ao superior.
A sessão contou com a participação especial da banda dos Fuzileiros Navais, que tocou o Hino Nacional, no início dos trabalhos, e o Hino do Senhor do Bonfim. O Coral do Isba, por sua vez, ocupou todo o primeiro lance das galerias para executar seis músicas no encerramento do evento, que teve ainda um vídeo institucional e foi ultimado por um coquetel na sala dos ex-presidentes.
Maria Alice nasceu em Loivos da Ribeira, "um lugar que não está nem no mapa", na região do Porto, em Portugal, segundo descrição da própria homenageada. Chegou ao Brasil numa páscoa da década de 40, quando sua família fugiu dos "horrores da Segunda Guerra". Chegaram à Bahia, conta ela, e foram direto à Igreja do Bonfim pagar a promessa de uma tia, feita no desespero de uma tormenta durante a travessia.
De Salvador, seguiram para Ilhéus, onde estudou no Colégio Nossa Senhora da Piedade, dirigido pelas ursulinas. Concluiu o segundo grau nas Mercês em Salvador e se graduou em Letras e Pedagogia. Seguiu para a França a fim de se aperfeiçoar, depois para o Rio de Janeiro, voltou para Salvador, depois para a França, depois para Salvador, onde fincou definitivamente os pés para dar início à sua obra social e educativa.
Nesse meio tempo já havia abraçado a carreira religiosa ao ingressar na Congregação Filhas do Coração de Maria. Foi junto com as irmãs religiosas que fundou a Escola Santo Antônio para atender aos moradores de invasões da Ondina. Com a ida das famílias carentes para a Boca do Rio, ela utilizou as instalações da Santo Antônio para fundar a Escola Pio XII, embrião do Isba. Em 2002, a Faculdade Social da Bahia (FSBA) ampliou a oferta de cursos de ensino superior.
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