Com a presença das maiores autoridades baianas, a Assembléia Legislativa realizará amanhã, a partir das 17h, uma sessão especial para entregar o título de Cidadã Baiana à escritora Zélia Gattai. A homenagem é uma iniciativa do presidente da Casa, deputado Clóvis Ferraz (PFL), que apresentou projeto de resolução neste sentido. Normalmente, as reuniões desta natureza ocorrem às quintas-feiras, porém, desta vez a sessão será excepcionalmente na quarta-feira por um fato simbólico: o dia 10 de agosto é a data de nascimento do escritor e amor da vida de Zélia, Jorge Amado.
De acordo com o autor da proposição, "o objetivo é homenagear uma das mais importantes escritoras brasileiras, baiana por devoção, e que tem muitos e importantes serviços prestados à nossa terra". Ferraz afirma ainda que a honraria é justa "não só por causa da sua vasta obra, mas também pelo seu amor à Bahia".
No projeto, que foi aprovado no dia 27 de dezembro de 2004, Clóvis Ferraz faz um detalhado histórico da vida da homenageada. Ele lembra que Zélia Gattai, filha de imigrantes italianos, nasceu no dia 2 de julho de 1916, na capital paulista, onde viveu toda a sua infância e adolescência. "Ainda jovem já participava com a família do movimento político-operário que tinha lugar entre os imigrantes italianos, espanhóis e portugueses naquele início de século", relata, acrescentando que aos 20 anos, ela se casou com Aldo Veiga. E da relação, que durou oito anos, teve um filho, Luiz Carlos, nascido também em São Paulo, em 1942.
"Leitora entusiasta de Jorge Amado, Zélia Gattai o conheceu em 1945, quando trabalharam juntos no movimento pela anistia dos presos políticos. A união do casal deu-se poucos meses depois. A partir de então, ela trabalhou ao lado do marido, passando a limpo, à máquina, seus originais e o auxiliando no processo de revisão", destaca o parlamentar.
Clóvis Ferraz lembra também que, no ano seguinte, Jorge Amado é eleito para a Câmara Federal e Zélia vai com ele para o Rio de Janeiro, então capital da República, onde nasce o filho João Jorge, em 1947. Um ano depois, com o Partido Comunista declarado ilegal, o escritor perde o mandato e a família tem que se exilar.
EXÍLIO"Viveram em Paris por três anos, período em que Zélia Gattai fez os cursos de Civilização Francesa, Fonética e Língua Francesa, na Sorbonne. De 1950 a 1952, a família viveu na Tchecoslováquia, onde nasceu a filha Paloma. Foi neste tempo de exílio que Zélia começou a fazer fotografias, tornando-se responsável pelo registro, em imagens, de cada um dos momentos importantes da vida do escritor", relata, informando ainda que em 1963, ela se mudou com a família para a "famosa" casa do Rio Vermelho, em Salvador, onde tinha um laboratório e se dedicava à fotobiografia intitulada Reportagem Incompleta.
Segundo Clóvis Ferraz, Zélia "gosta de enfrentar sempre novos desafios". Foi exatamente com este espírito que ela, aos 63 anos, em 1979, começou a escrever suas memórias, estreando com Anarquistas, Graças a Deus. Este livro, quando completou 20 anos da 1a edição, já havia vendido mais de 200 mil exemplares no Brasil.
Mais do que o aspecto quantitativo, conforme Clóvis Ferraz faz questão de destacar, esta obra de estréia de Zélia recebeu o reconhecimento pela qualidade literária, obtendo os seguintes prêmios: Paulista de Revelação Literária, em 1979, e Associação de Imprensa, McKeen e Troféu Dante Alighiere, em 1980.
Além deste, que foi inclusive adaptado para minisérie pela TV Globo, Zélia Gattai escreveu outros 14 livros, fixando-se na literatura infanto-juvenil e no memorialismo. Neste último, vale destaque um sobre Jorge Amado, lançado em 2002, no qual ela classifica seu amor, como um baiano romântico e sensual.
A ligação afetiva de Zélia com Jorge reflete-se inclusive na eleição dela para a Academia Brasileira de Letras, quando é eleita para a cadeira 23, anteriormente ocupada por ele e que teve Machado de Assis como primeiro ocupante e José de Alencar como patrono.
A homenagem da cidadania baiana vem juntar-se a diversas outras honrarias já recebidas por Zélia, como a de Cidadã da Cidade do Salvador, Cidadã de Honra da Comuna de Mirabeau e a comenda Des Arts et des Lettres, do governo francês.
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