O falecimento do presidente nacional do PSB, Miguel Arraes, foi lamentado pela deputada Lídice da Mata (PSB) em caudalosa moção que apresentou na Assembléia Legislativa, reafirmando a expressão histórica indelével de Arraes, "uma das mais proeminentes personalidades brasileiras do século XX, que ao longo de mais de seis décadas lutou intensamente ao lado dos movimentos populares e das forças de esquerda em defesa de uma sociedade justa e democrática". Filiada ao Partido Socialista Brasileiro e admiradora do correligionário e presidente da legenda, a deputada estadual baiana louvou a sua coerência e dedicação e traçou um breve painel da sua rica biografia. A moção foi apoiada de forma unânime na Casa.
Miguel Arraes nasceu em Araripe, no Ceará, ensinou Lídice, em 15 de dezembro de 1916 e, após concluir o curso secundário no Crato transferiu-se para Pernambuco, matriculando-se na Faculdade de Direito de Recife. A sua ligação com Pernambuco fez muita gente confundir a sua naturalidade, considerando-o como pernambucano, pois foi aí que ele exerceu cargos como governador de Estado (três vezes) e deputado federal em várias legislaturas. A vida pública do ex-governador começou em 1933 quando ingressou por concurso público no Instituto do Açúcar e do Álcool, IAA, sendo nomeado em 1939, já advogado formado, chefe geral da Secretaria da Presidência desse órgão e, entre 1943 e 1947, foi delegado regional no estado.
PRISÃOSaiu do cargo para a Secretaria da Fazenda de Pernambuco, na gestão do jornalista Barbosa Lima Sobrinho como governador, e nesse período participou da fundação do PSB. Lídice da Mata detalhou ainda os postos eletivos galgados por Arraes em sua longeva carreira. "Deputado estadual nos pleitos de 50 e 54, em 1959 retornou ao cargo de secretário da Fazenda no governo de Cid Sampaio, sendo eleito em seguida prefeito de Recife. Já em 1962 ele chegou pela primeira vez ao governo estadual, sendo deposto em 1º de abril de 1964, pelo golpe militar que o prendeu durante 11 meses na então desolada ilha de Fernando de Noronha. A parlamentar lembrou o sofrimento do aliado político nessa época, quando passou, antes da longa internação em Fernando de Noronha, por cadeias de Recife e do Rio de Janeiro.
Ele foi libertado em 20 de maio de 1965 e embarcou para a Argélia. Ficou afastado de seu país por 14 anos, retornando do exílio em 1979 depois de anistiado e, com os direitos políticos recuperados, participou da fundação do PMDB, o único partido de oposição consentido naquela época. Elegeu-se deputado federal em 1982 e, quatro anos mais tarde, novamente governador de Pernambuco. Quando ele deixou o governo estadual, continua a deputada do PSB, Miguel Arraes retornou ao Congresso Nacional, eleito mais uma vez como deputado federal e em 1º de janeiro de 1995 assumiu pela terceira vez o comando do Poder Executivo em Pernambuco. Em 2002 elegeu-se novamente deputado federal ? posto em que veio a falecer no último dia 13 em Recife.
JUSTIÇA SOCIALA moção de pesar elaborada pela deputada Lídice da Mata destacou o trabalho em busca da justiça social desenvolvido pelo aliado em toda a sua longa carreira, citando como ação exemplar o "Acordo do Campo", celebrado em sua primeira passagem pelo governo estadual, no Palácio Campo das Princesas, entre trabalhadores rurais e empresários da agro-indústria canavieira, quando "pela primeira vez no Brasil foram assegurados ao homem do campo direitos elementares como o salário mínimo", enfatizou.
Lídice observou que "com o desaparecimento de Miguel Arraes, aos 88 anos de idade, o Brasil perde um dos seus mais destacados líderes políticos, cuja vida foi dedicada a reformular de forma construtiva os rumos do país, abrindo caminho para a consolidação de uma nação onde os brasileiros não sejam tratados como estrangeiros ? separados pelo fosso de vergonha entre os que comem três vezes ao dia e os que nada comem". Esta afirmação foi feita pelo próprio Arraes, informou Lídice, em 1995, referindo-se ao modelo de estabilidade econômica que considerava apropriado ao país.
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