Integrada por mulheres afrodescendentes com idades entre 50 e 70 anos, a Irmandade da Boa Morte caracteriza-se pelo sincretismo presente no culto aos orixás e à devoção católica à Nossa Senhora da Boa Morte. No dia 15 de agosto, essas mulheres saem em procissão pelas ruas de Cachoeira (Recôncavo baiano), usando trajes de gala nas cores preta e branca e carregando a imagem da santa católica. A celebração foi destacada na Assembléia Legislativa pela deputada Lídice da Mata (PSB), que apresentou uma moção de congratulações à Irmandade.
No documento, Lídice conta que a data de origem da instituição é imprecisa. "Esti-ma-se, porém, que ela tenha sido organizada em Cachoeira a partir da década de 1820", explicou ela, acrescentando que durante a primeira quinzena de agosto a Irmandade sempre promove uma longa e intensa programação de eventos públicos, atraindo a Cachoeira turistas e pesquisadores de outros estados e de várias partes do mundo.
"A procissão do enterro de Nossa Senhora da Boa Morte constitui o momento culminante do calendário da festa", continuou Lídice. Para ela, a austeridade dos semblantes das mulheres, acentuada pelas lutuosas vestes, torna ainda mais solene o cortejo, "cuja passagem parece evocar a trágica trajetória dos afrobrasileiros escravizados no passado e majori-tariamente excluídos no presente".
Em meados de 1990, a Irmandade instalou-se num conjunto arquitetônico de quatro prédios que abrigam uma capela, museu, auditório, refeitório e outras dependências. Esse belo conjunto, onde são realizados os rituais secretos vinculados ao culto dos orixás, também é franqueado à discussão de relevantes aspectos da cultura, história e situação dos afrodescendentes na sociedade brasileira.
"Sem dúvida, a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, pela sua singularidade e importância para preservação e divulgação das mais autênticas e profundas manifestações da cultura afrobrasileira, constitui-se em um dos maiores patrimônios culturais do Brasil", concluiu a autora da moção.
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