A indicação de quatro mulheres baianas ao Prêmio Nobel da Paz foi saudada na Assembléia Legislativa com uma moção de congratulações pela deputada Lídice da Mata (PSB), que registrou a importância "dessas valentes cidadãs" e fez um breve resumo de suas "ricas" biografias. A parlamentar tratou ainda da importância simbólica do Nobel da Paz, criado em 1901, e que ao longo de sua existência agraciou apenas 12 mulheres, e do projeto 1000 Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz de 2005 ? criado com o objetivo de reconhecer o trabalho das mulheres que, em diversas áreas de atuação, vêm lutando pela paz.
Para a deputada do PSB, é necessária a adoção de estratégias como esta para dar visibilidade à luta de centenas de mulheres que anonimamente contribuem no dia-a-dia para que tenhamos um mundo melhor e pacífico. Ela informou que do segmento brasileiro desse projeto de âmbito mundial foram feitas 262 sugestões ao comitê que define os concorrentes ao Nobel, sendo 12 delas baianas. Ela aplaude na moção que apresentou na Secretaria Geral da Mesa do Legislativo todas as escolhidas, em especial as quatro mulheres de quem conhece o trabalho e a luta.
Dentre elas, duas são ialorixás, Maria Stella de Azevedo e Hilda Dias dos Santos, uma é sindicalista, Creuza Maria Oliveira, e a outra é Ana Montenegro, advogada e ativista política. Maria Stella, a Mãe Stella de Oxóssi, ensina Lídice da Mata, é enfermeira e aos 50 anos foi escolhida para a função de ialorixá do terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais tradicionais do país. Nessa condição, "além da sua liderança espiritual", ela cumpriu uma tarefa comunitária de extrema importância e no seu terreiro mantém um Museu do Candomblé, projetos de geração de emprego e renda e uma escola de ensino fundamental que resguarda a língua-mãe, o iorubá, idioma ensinado aos alunos. "Aos 80 anos, Mãe Stella segue afirmando o orgulho de ser afrodescendente e a força transformadora dos orixás".
Já Hilda Dias dos Santos, a Mãe Hilda, é uma das mães-de-santo mais respeitadas do Brasil, explica a parlamentar, contando que em 1952 ela fundou o terreiro do Ilê Axé Jitolu, localizado no bairro da Liberdade, onde existe grande concentração de negros em Salvador. "Ela acredita que religiosidade e solidariedade andam de mãos juntas e fundou uma escola para crianças e adolescentes da comunidade, onde se conjuga ensino formal com ações fomentadoras da auto-estima", acrescentou. Lídice destaca a firme luta desse terreiro contra o racismo, observando que foi "na sala de estar de Mãe Hilda que nasceu o consagrado bloco Ilê Aiyê, integrado por negros, que desfila nos carnavais a beleza e o orgulho dessa raça".
Sobre a sindicalista Creuza Maria Oliveira a deputada do PSB traçou um painel de dedicação e esforço desde a mais tenra infância, pois ela começou a trabalhar como empregada doméstica aos 10 anos e, nascida em 1975, "é um exemplo nacional de luta pelos direitos de sua categoria profissional, pela igualdade racial e pela erradicação do trabalho infantil doméstico". A deputada informa também que ela participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia, que atende a cerca de 40 pessoas por dia, e da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas. Para a parlamentar, Creuza Maria faz de sua árdua história um exemplo no combate ao trabalho irregular, buscando conscientizar políticos e a população em geral da iniquidade a que estão sujeitas as pessoas nessa situação.
Quanto a Ana Montenegro, lembrou inicialmente a sua longa trajetória de militância no Partido Comunista Brasileiro, a que se filiou quando tinha 30 anos, "para se tornar uma comunista vitalícia". Mesmo as alterações verificadas no movimento comunista não significaram qualquer abalo em suas convicções que permaneceram íntegras em sua consciência. "Sempre ligada às organizações e aos anseios populares, Ana envolveu-se em reivindicações por melhor moradia, saúde, salário e educação", patenteando esses anseios sempre com vigor. A deputada do PSB frisou ainda a faceta intelectual da militante, que escreveu livros de ensaio e poesia, e os problemas que enfrentou com o exílio no pós-64, "de onde só retornou com a anistia em 1979, não para receber louros, mas para continuar com a sua luta, agora com o cerne do ativismo voltado para as mulheres e para a população negra".
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