Nome: Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, Visconde de Pirajá
Local de Nascimento: Salvador, Bahia
Data de Nascimento: 1788
Data de Falecimento: 29 de julho de 1848
Nome dos genitores: D. Ana Maria de s. José e Aragão e José Pires de Carvalho e Albuquerque
Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque era descendente, pelo lado de sua mãe, dos titulares do morgadio da Casa da Torre de Garcia D'Ávila; o pai era, por sua vez, senhor dos engenhos de Cazumbá, Passagem e Nossa Senhora da Conceição. Era irmão mais novo de Francisco Elesbão Pires de Carvalho e Albuquerque e de Antônio Pires de Carvalho e Albuquerque, morgado da Casa da Torre. Os três estiveram profundamente envolvidos no conflito que levou aos acontecimentos da guerra de independência do Brasil na Bahia, ao lado de Joaquim Inácio de Siqueira Bulcão, capitão-mor da vila de São Francisco do Conde, também senhor de engenho e o responsável por articular, em junho de 1821, a aclamação do Príncipe Regente D. Pedro nas vilas do Recôncavo.1
Pertenceu a uma das famílias mais ricas e poderosas da então capitania da Bahia. Tinha propriedades de terra e dedicou-se à carreira militar, tendo participado, segundo Pedro Calmon, da guerra contra Artigas, que levou à ocupação da Banda Oriental do Uruguai pelo Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.2
Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque é um bom exemplo daquele estrato social baiano que foi progressivamente aderindo ao projeto de independência conforme ele se convertia na melhor solução de dilemas conjunturais: neste caso, a independência impediu o retorno do Brasil ao status quo de colônia e manteve a ordem, a escravidão e o tráfico de pessoas escravizadas.
No ano de 1821, Pires de Albuquerque, também conhecido como Coronel Santinho, foi um dos integrantes da elite agrária baiana partidária do rompimento com Portugal. Inclusive, organizou e chefiou a 'Legião da Torre', que alguns defendem havia sido reunida para vir em socorro aos sitiados no forte de São Pedro em 19, 20 e 21 de fevereiro de 1821, estes comandados por Felisberto Gomes Caldeira – ou para colocar Salvador sob cerco.3
Os eventos de 25 de junho de 1822, quando uma canhoeira lusa bombardeou a vila de Cachoeira, precipitaram a unidade em torno do projeto de independência, que vinha sendo costurado já antes.4 Assim, logo após a aclamação do Príncipe D. Pedro na Vila de Cachoeira, ocorreu um movimento de tropas e de recursos financeiros e materiais em toda a província da Bahia. Em 18 de Julho, Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque começou a arregimentar tropas formadas até por indígenas, aquartelados na região da Feira de Capuame, impedindo, assim, o abastecimento de gêneros do interior e de outras províncias para a capital – força que passou à posteridade como a Legião da Torre. O movimento de conquistar o entorno de Salvador, sobretudo a região de Pirajá e a Estrada das Boiadas, foi decisivo para a vitória brasileira ao longo dos meses que se seguiram.
Abriu-se, nos meses seguintes, uma série de conflitos militares em todo o Recôncavo. De um lado, Madeira de Mello procurava romper o cerco e abastecer a capital e suas tropas de gêneros; de outro, as tropas sob o comando do Tenente-Coronel Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque visavam impedir a chegada de alimentos, reforços e munições. Um dos conflitos mais significativos desta guerra de guerrilhas foi a Batalha do Funil, em 18 de julho de 1822, na qual se impediu o acesso das forças de ocupação às povoações de Nazaré e Jaguaripe, que eram consideradas como celeiro do Recôncavo.5
O Coronel Santinho continuou profundamente envolvido com a guerra de Independência do Brasil na Bahia, mesmo depois da chegada do comandante francês Pedro Labatut, nos primeiros dias de novembro de 1822. Se não foi comandante das forças brasileiras, Santinho se tornou Coronel do Estado Maior e Ajudante-Geral do Exército Libertador depois da reorganização promovida pelo General Labatut, e manteve destacada atuação até o final do conflito.6
Nas décadas seguintes, Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque assumiu uma posição politicamente importante na sociedade baiana. Com efeito, os irmãos da Casa da Torre foram essenciais na consolidação do Império na província da Bahia, imersa em agitação – com revoltas de escravizados, saques, sem falar da guerra – conforme o novo regime ganhava o feitio de uma revolução, mas conservando, tanto quanto possível, as relações sociais: a ordem. O reconhecimento veio com a elevação de Joaquim, em 1826, a Barão e, meses depois, a Visconde de Pirajá.7 Nas décadas seguintes, aliás, teve um papel em sufocar rebeliões de pessoas escravizadas, como em 1826, uma revolta federalista em Cachoeira, no ano de 1832, e a Revolta dos Malês, ocorrida no ano de 1835.8
Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque foi ainda integrante do Conselho Geral de Província, bem como Deputado Provincial titular na primeira legislatura, tendo assumido o mandato já no ano de 1835. Esta é uma das passagens mais incomuns na trajetória desta personagem. Em que pese tenha sido defensor de um regime absolutista e da ordem escravocrata, ele era opositor da Lei nº 17, aprovada pela Assembleia Legislativa Provincial em 25 de junho de 1835. Esta norma previa a construção de um cemitério na capital baiana, intervindo, assim, na prática costumeira de realizar os enterramentos nas igrejas. Contava com a oposição de pessoas oriundas de camadas mais desfavorecidas, mas também de estratos intermediários e de integrantes da elite do período – sobretudo membros de Ordens Terceiras, como a de São Francisco e a do Carmo.9
Católico tradicionalista e parlamentar, o Visconde de Pirajá foi provavelmente contrário ao projeto que originou a Lei do Cemitério no ano de 1835; e, em outubro o ano seguinte, foi um dos signatários e, talvez, um dos principais articuladores do célebre manifesto contra o cemitério do Campo Santo, o qual resultou, em 26 de outubro de 1836, na destruição do primeiro cemitério, que só passou a funcionar plenamente sob administração da Santa Casa de Misericórdia da Bahia e depois da epidemia de cólera de 1855. A atuação de Pirajá, mais simpática aos revoltosos, não impediu no ano seguinte que tenha combatido a Sabinada, inclusive contra alguns dos signatários do manifesto.10
O Visconde de Pirajá veio a morrer em 1848, numa casa de saúde em Salvador, septuagenário e louco, em difícil situação financeira.
NOTAS DO TEXTO
1CALMON, Pedro. História da Casa da Tôrre: uma dinastia de pioneiros. 2.
ed. Rio de Janeiro, RJ: J. Olympio, 1958, p. 181
2CALMON, 1958, p. 182
3CALMON, 1958, p. 187
4BANDEIRA, Luiz ALberto Moniz. O feudo. A casa da torre de Garcia d’Ávila:
da conquista dos sertões à independência do Brasil 3ª edição. Rio de Janeiro:
Companhia das Letras, 2015, P. 470-1
5BANDEIRA, O feudo, 2015, p. 478
6TAVARES, Independência do Brasil na Bahia, 2005, p. 156-7
7BANDEIRA, O feudo, 2015, p. 550
8REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do Século XIX.
São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 325
9REIS, A morte é uma festa, 1991, p. 298-301
10REIS, A morte é uma festa, 1991, p. 325-9
NOTA DA IMAGEM:
TAUNAY, Affonso de. Grandes vultos da independencia brasileira: publicação commemorativa
do primeiro centenario da independencia nacional. São Paulo: Editora companhia Melhoramentos
de S. Paulo, 1922. p. 183.
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